16/06/2009

Maitê

Olhou-se no espelho lentamente e pensou:
"Enfim chegou o dia! Ou melhor, a grande noite."
O frio na barriga quando acordou de manhã era grande, só de pensar em todo o tempo que isso levou.
O início do processo seletivo, todas as idas e vindas à passarela, o treinamento, as correções.
Olhou-se novamente no espelho, de corpo inteiro. Nada mal, confiava muito no que via. Porque no fundo mesmo tão jovem sabia quem ela era. Sabia muito bem, de seus atrativos e seus “encantos”? Até porque, outras pessoas comentavam. Claro que, muitas eram da família, mas... Ela tinha lá seu “córum”, pensou, e riu, sua platéia não sanguínea.
Bem, todo aquele frisson dos últimos dias parecia resumido a uma enorme onda de frio corporal. "É hoje, é tudo ou nada."
E se bem na hora algum imprevisto acontecer? Pára com isso, "treinei muito” e sei muito bem o que eu vou fazer lá. Meu maiô está de acordo, o salto sete impecavelmente engraxado, minhas unhas em ordem, nenhuma celulite, o cabelo “super” “hiper” resolvido.

Estava em forma, pois tão jovem, não teria desculpas para o contrário e ainda porque a genética favorece.
Olhou de novo no espelho, sentia-se bela e capaz de ganhar.
"Ora, se cheguei até aqui, posso ir mais adiante. Se eu fui selecionada antes tenho enorme chance. A maior chance é hoje, e depende de mim. Eu vou lá, desfilo, dou aquele sorriso meia-lua cheia de dentes, e pronto! O que importa é estar entre as melhores naquele momento. Eu quero ganhar? Óbvio. É por isso que vou lá."
Mas, se acaso seu desejo não fosse satisfeito agora, continuaria sendo ela. Continuaria sendo bela, por dentro e por fora. E, continuaria com sua platéia particular.
Quem a conhece sabe, e ela sabe. E isso vale mais que todo o resto.
Vale cada traço de batom no lábio, cada tratamento estético e cada salto alto.
"Vale todo o esforço e toda torcida e todo choro que eu possa ter de emoção."

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