27/06/2009

Depois da tempestade, a bonança...

A noite chegou, clara, meio prata, de tanta densa neblina pelo clima que se instala no mês...coincidência: coração descoberto...tristeza interior, dentro dele, homem maduro que rogou a Deus para que Ele o escoltasse no melhor caminho em rumo à sua felicidade amorosa. Havia tomado a decisão há pouco tempo. Escolhas. Como alguém que trilhava os passos como um mapa, com pontos vermelhos espetados com alfinetes. "Bússola", pensou, "precisarei de uma, quando eu for fazer a viagem dos sonhos." "Mas e agora?" Refletiu. "Com quem farei isto se o relacionamento terminou?"
Lembrava então, da última conversa, com a moça , que deixou, infelizmente, de coração partido, quando fez sua escolha para voltar para a noiva que tinha, ja há um ano.
Era uma estória interessante a deles: Ambos haviam estudado juntos há mais de vinte anos e nunca mais se encontrado, e, tido seus relacionamentos duradouros e ao mesmo tempo, suas decepções. Naquela noite de trabalho intenso para ele, recém separado de sua noiva, ele e a moça, haviam se esbarrado, quando ele, a caminho de casa, parou no posto para abastecer seu automóvel. Se encontraram, mas foi "ela", que o reconheceu primeiro. Ele sorriu e pensou: "Não pode ser aquela garotinha miúda da escola primária! Que mulherão"...risos. Tudo a seguir, decorreu muito rápido, trocaram seus cartões profissionais, ele gerente de logística, em empresa aduaneira. Ela, advogada com escritório próprio, mas que atravessada uma das piores fases financeiras. A crise internacional do momento, fez com que seus clientes ficassem inadimplentes, justamente por conta de sua especialidade: Direito Marítimo. Sorriram, iniciaram uma conversa que seguiu noite a dentro. Os dois sozinhos, sem namorados, passaram a ser ver todos os dias. Ele, como bom amigo, indicou sua amiga doutora para alguns de seus fornecedores, e clientes. Sairam juntos, se divertiram, se apoiaram um no outro. Se amaram como dois adolescentes descobrindo novidades de uma primeira noite, inesquecível. "Inesquecível", lembrou, enquanto seus olhos nublaram rapidamente. Apesas da inusitada relação que viveram, ele há dois meses, havia voltado para a noiva, e decidido marcar o casamento rapidamente. Deixou a moça, dizendo que, amava a noiva, que iria se casar, mas que tinha vivido em pouco tempo com ela, um momento raro, que não se arrependia, mas que entre eles, só poderia haver, a amizade. A moça entendeu, se entristeceu. E baixou os olhos. Prometeu não procurá-lo, e afirmou, que somente o tempo para fazê-lo entender, o que viveram. Se despediu com um beijo, e uma voz rompida pela rouca emoção de perdê-lo.
Tudo transcorreu normalmente nos próximos dias: Proclamas no cartório, contratação de empresa de eventos para a festa. Escolha de viagem junto a empresa de turismo, afinal, ele bem-sucedido, poderia "bancar" seu momento mais "inesquecível". A noiva era exigente, gostava de tudo do melhor, vinda de família mais abastada, estava acostumada com a vida social da cidade, em alto estilo.
(Nunca mais havia se esbarrado com a moça.)
Era chegado a semana do casamento, eles estavam praticamente com a mudança de suas casas, para a casa que iria os unir para sempre. Móveis chegando, presentes sendo recebidos. Foi então que decidiram abrir alguns deles, em meio ao lambrusco gelado que ele havia comprado para brindar naquela noite (pela promoção que havia recebido: se tornaria, um diretor de uma das filiais do exterior, no próximo verão).
"Tim tim" rogou ele! "Saúde", sorriu, e abraçado com ela, pegou um embrulho enorme, que parecia pesado. Abriu o embrulho. "Um vaso!" Exclamou. "E de porcelana chinesa!" E enquanto segurava o vaso e o suspendia, pôde notar, diversos envelopes de cartas, caindo de dentro dele no chão de mármore da sala. A noiva outrora sorridente, ficou, pálida, imóvel e sem pronunciar palavra alguma. Eram cartas, de seu namorado, que tivera na adolescência, antes de conhecer, seu então noivo. Ele ficou sério, e se atentou para uma das fotos, caídas no chão. Pegou a foto e notou, que era o casal, e ao fundo, a cidade de Campos do Jordão, o rapaz sorrindo abraçado à sua noiva e ela, também, sorrindo. "Seria comum" pensou, se não fosse pelo fato da foto, que poderia se confundida com uma,de época passada, não mostrasse sua noiva com o relógio Bulova, que ele, lhe havia comprado no mês das noivas, como um dos presentes de retorno ao noivado! E foi então que ele descobriu tudo: com uma conversa séria, entre acusações e lágrimas, que no feriado de "Corpus Cristhi" foi que eles viajaram, enquanto ele, estava em viagem para fechamento de um contrato. E ela, alegando ter que visitar colega de faculdade, havia, se ausentado. Ele era um homem educado e não perdeu a linha, levantou-se, deixou a sua aliança no aparador recém instalado e voltou para sua casa. Dias depois, soube, que o vaso de porcelana, havia sido entregue pela mãe do "ex-namorado" de sua noiva, como um presente de casamento, porém, sem cartão assinado...
"Está frio e estou sozinho", pensou, enquanto se recordava que, estava em um hospital, em observação, devido a crise de hipertensão sofrida, após uma desgastosa reunião de negócios na empresa. Quando atingia um nível alto de estress, sua pressão arterial subia rapidamente, e desta vez, atingiu nível fora de controle, precisou ir ao hospital. Após a alta médica, em horário da madrugada, daquela fria noite inicial de inverno, lembrou-se de que, precisava novamente, parar para abastecer o automóvel, de combustível. Escolheu um posto mais distante, apenas para respirar um pouco mais do ar frio, e preencher o tempo sozinho de volta a sua casa.
Era um daqueles grandes, vistosos, perto da praia, com loja de conveniência reformada. Abasteceu, pagou a atendente, retornou para sua casa. Adormeceu lendo um livro que ganhara da moça, "O pequeno príncipe". O sol do novo dia chegou, firme, forte. E foi com ele, que abriu os olhos e despertou. Após seu banho e café matinal, resolveu caminhar na praia, para manter a forma. E eis que se deparou com a moça, cabelos presos, roupa esportiva. Sorriram. Ele baixou os olhos. Ela notou a ausência da aliança, mas nada comentou. Se cumprimentaram, e foi então que ele, repentinamente, a tomou nos braços, e robou-lhe um beijo, ao qual, ela primeiro, relutou, depois, se entregou, mas como quem recobra a consciência depois de um afogamento, o empurrou para longe e se despediu, não antes, de olhar bem nos olhos dele e saber, que sua atitude, era simplesmente, um destes momentos, de carência afetiva, por qual todos nós, um dia, passamos. "Inesquecível", ela pronunciou. E se despediu, sem ao menos deixar um beijo em seu rosto. Ele, ao retornar a pé para casa, avistou de longe, o conversível de sua ex-noiva. E ela, encostada nele, com um ramo de cravos da índia em seus braços. "Precisamos conversar" disse ela, estendendo as flores para ele, como quem se desculpe e homenageia ao mesmo tempo.
Ele, surpreso, apenas perguntou: "Você não quer entrar?" E apontou para a entrada de sua casa.
"O tempo mudou logo cedo." Ela respondeu. "E com o sol, decidi te trazer estas flores", sorriu faceira. "Você tem razão". Disse ele, animado, enquanto olhava o céu já ensolarado, azul, firme.
"Meu avô tinha mesmo razão, depois da tempestade,vem a bonança." Entrou, e fechou com o controle remoto, o portão.

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