10/08/2009

Flores


Flores no cabelo para ele. Ele, que a encantou quando cantou "se esta rua fosse minha, eu mandava ladrilhar, para você, meu amor passar...". Ele, que a fez chorar, e a fez sorrir em menos de vinte e quatro horas de emoção.

A moça mirava-se no espelho se preparando para seu amado. A flor no cabelo. O perfume preferido dela, que também encantou o homem. O mesmo homem, que não se sabe como, a amou à primeira vista, em inusitado encontro no aeroporto, para levar o amigo, que iria embarcar em viagem internacional. Ela, sentada próxima do chek-in, aguardando sua prima com particularidades burocráticas, tímida e seleta, folheava uma revista, aleatoriamente. Quando ele a interrompeu, pedindo informações sobre a localização do portão de embarque.

Tudo assim tão simples, se não houvesse o fato de que, naquela época, ela namorava há pouco, um jovem rapaz. Lembrava-se agora, quantas voltas, em rápido período, sua vida, tinha dado.

Terminara o namoro, reatara com o antigo amor, em frenesi urgente de "ter o amor de verdade", o que viveria com ela e morreria? por ela? Bem...nem tudo na vida são flores, mas neste caso, bastaram alguns dias ao lado do antigo amor, para se descobrir então, que tudo era pouco, diante de sua expectativa de felicidade eterna. Como a vida prega peças...ainda mais nesta moça. Do atual amor, no dia de seu aniversário, recebera um "não posso dormir contigo esta noite, que estou muito cansado para sair de casa". Do ex-namorado recente, um recado em sua "secretária eletrônica", uma analogia, que tinha a haver com flores, e que no momento, para ela, quase nada significara, por ser tão cifrado o recado...e de um suposto, novo e gentil amigo, um belo texto em sua caixa de correspondência, uma linda carta...

Menos de um mês de sua nova idade, de seu "ano novo" e lá estava a moça diante do espelho, se maquiando e refletindo com um pequeno sorriso. Confiante, tranquila, colocando a sua flor dourada nos cabelos cacheados...tocando-os com calma e suspirando! E o suspiro na convicção que se instalava, naquele coração sofrido, por armaguras antigas de amores desencontrados, ilusões perdidas, sonhos despedaçados, deu formato a um largo sorriso, quando os lábios se abriram em meia lua, para que a moça passasse seu batom rubro, e apertasse um lábio contra o outro para "carimbar" a cor escolhida.

Ajeitou novamente o cabelo e sorriu. O encontro era o menos esperado possível, iria rever o suposto novo amigo, que aos poucos, se chegara em seu coração, lhe apertara a alma com candura e havia lhe abraçado na noite anterior e lhe arrancado suavemente um beijo. A lembrança era boa, como se sempre eles houvessem se abraçado. E hoje, ela iria ao novo e recente encontro, do homem encantador, que ansiava desvendar, com sua flor no cabelo, para fazer-lhe um mimo, agradá-lo. Nem o ex-amor antigo, nem o ex-amor recente, amor recém- nascido mesmo, que parecia trazer um bom presságio de ano novo que ela iria viver...Sorriu. E pegando sua bolsa e trancando a porta de sua casa, lembrou-se então, do recado de seu aniversário, que agora parecia entender bem melhor e aceitar: "...para dizer que não falei das flores. Eu disse flores?" Sim, disse. E era mesmo verdade, na vida desta moça, nos altos e baixos, nas agonias mais profundas, e nas felicidades mais plenas que se pode vivenciar, sempre as rodeavam, sempre haviam, "flores".

2 comentários:

  1. ENTÃO MAIS FLORES PARA TI! GOSTEI!

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  2. Obrigado, mas na verdade, estas flores são também, para aquelas que transparecem um jardim e não apenas para mim. Abraços.

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